quarta-feira, 6 de junho de 2012

FERIDAS DE UMA VIDA




Nós somos muito mais complexos do que imaginamos ser. 
Podemos perceber o quão complexo somos com o “simples” fato de olharmos como se dá, de fato, o relacionamento humano.
Quando nos relacionamos com uma outra pessoa, seja numa amizade ou num namoro e até mesmo nos “ficas” que, infelizmente é algo tão comum hoje, não existe apenas uma troca de conhecimento de uma historia de vida, relacionar-se com o outro não é apenas saber do que esse outro gosta ou pensa, não é somente troca de carícias, abraço, beijo. O relacionamento humano vai muito mais longe, chega a uma dimensão que transcende.
                                                               
Ao nos relacionarmos com um outro entramos numa comunhão tão profunda de vida que acabamos unindo ao outro tudo aquilo que temos; as nossas qualidades e também as nossas feridas.
Sim, é isso mesmo, nossas feridas acabam afetando o outro. É por isso que acabamos, muitas das vezes, ferindo o outro quando não queríamos.
Ao relacionar-se com uma outra pessoa as nossas feridas a afeta e, se esse alguém não tiver a maturidade necessária para saber lhe dar com as feridas desse outro, ela acabará se envolvendo com elas e acabará se ferindo com as feridas do outro.
É por isso que as feridas precisam ser curadas. Uma ferida aberta no passado que não foi curada será sempre uma ferida presente e viva, geradora de novas feridas.

O que mais me impressiona em Jesus não era a quantidade de milagres que ele fazia, mas era a sua capacidade de amar, de dar ao homem o que de fato ele precisava. As curas que ele realizava não eram, nenhuma delas, curas somente físicas, eram curas na alma, curas de um passado ferido.
Jesus sabia que somente a cura de uma alma, de uma história ferida, era capaz de fazer uma pessoa ser livre de verdade. E ele sabia que somente a verdade era capaz disso, de revelar a ferida com o objetivo de ser curada. Foi isso que ele fez com aquele paralitico entrevado há anos numa maca por causa de uma paralisia. Jesus não o cura, de imediato, fisicamente, mas ao dizer: “Os teus pecados estão perdoados.” Jesus realiza a primeira cura daquele homem e ela acontece na sua história, Jesus cura as feridas de sua alma e lhe dá a paz, somente após isso a cura física lhe é concedida. Uma alma, uma história ferida será sempre uma ferida que se revela no corpo, não adianta querer esquecer uma lembrança dolorosa, enterrar não é resolver, enterrar é guardar pra sempre algo que só trará sofrimento desnecessário.

Jesus sabia disso e a cura física daquele cego não foi com o objetivo de somente curar uma cegueira, mas essa cura se deu porque aquele homem precisava curar sua alma e essa cura só se daria se ele visse a verdade, verdade essa revelada nos olhos de Jesus. Por isso a cura física desse cego tem o objetivo de fazer com que aquele homem pudesse olhar, literalmente, olhar nos olhos de Jesus, porque somente assim, naqueles olhos, tudo seria revelado, tudo seria curado. Eram as feridas de sua alma, da sua história, que o cegava fisicamente. São as feridas de nossa historia, da nossa alma, que nos cega. Feridas que não nos permite ver a verdade e é por isso que a única coisa que pode resolver isso é a própria verdade.
                                                                               
Uma lembrança que atormenta e causa dor, uma lembrança que até nos causa indiferença é certeza de uma historia ferida e ferida não curada.                 

                                                                               
Curar o passado é curar o presente na perspectiva de um futuro livre, pois é descongelando o passado que se verá o rio da vida correr livremente sem barreiras que o impeça de seguir seu curso. Permitir-se curar numa historia dolorida é permitir-se viver uma vida verdadeiramente santa, pois não há santidade sem liberdade nem há santidade sem maturidade. E quer maior maturidade que CONHECER-SE e PERMITIR-SE ser curado?


                                                                                                  (Texto escrito por Itamar Antônio)

domingo, 3 de junho de 2012

A IMPORTANCIA DE SE TER AMIGOS

 


                                                                                                            








                                                                                           Itamar Antônio (membro da Comunidade Católica Shalom-CA, estudante de psicologia pela Estácio-FASE, colaborador de nosso blog)




A vida nos reserva inúmeras coisas boas e dentre elas está a amizade.

Como seres humanos, não nascemos para a ilha, ou seja, para o isolamento em nós mesmos, nascemos para o relacionamento, precisamos nos relacionar com outras pessoas, se não, seria impossível até conhecer-se nas nossas particularidades.

Gosto muito daquele filme chamado “Náufrago” onde o personagem que vive um náufrago, numa ilha deserta, vê numa bola de vôlei uma via de escape que parecia tão real, na verdade era real porque a idéia de está sozinho, sem ter com quem conversar, era insuportável pra ele. E aquela simples bola torna-se para ele a segunda “pessoa” mais importante de sua vida, pois a primeira já tinha lugar cativo; a sua “potencial” esposa.


                                                       
Mas se ele só precisava conversar com alguém, ou seja, se ele só precisava “desabafar” porque então ele não o fez com o retrato de sua namorada? Porque como um homem que é feito para o relacionamento não foi feito para relacionar-se com uma pessoa apenas, cada pessoa ocupa um espaço fundamental e importante no nosso processo vivencial. Sua namorada era amiga e ocupava um lugar que era só dela, mas ele precisava de alguém diferente que o mostrasse, e o ensinasse o que ela não saberia, que era lhe dá com aquela ilha. Por isso é bom e importante termos muitos amigos, mas, amigos de verdade.

Então ele encontra um grande amigo chamado Wilson que aos poucos, com sabedoria, vai lhe falando as palavras certas na hora certa. Amigo que sabia silenciar quando o silencio era a melhor resposta. Amigo que era humano e cometia os seus erros. Amigo o qual quando percebia que o acusara injustamente corria atrás para reconciliar-se. Foi com erros e acertos nessa “amizade” que o náufrago foi crescendo e se conhecendo até perceber que agora tinha segurança e conhecimento para lhe dá com aquela ilha.
                                                                        
O náufrago sem perceber descobriu que seu grande amigo era ele mesmo, ou melhor, estava nele mesmo. As palavras do Wilson eram, na verdade, as palavras de sua consciência. Aquela voizinha a qual ouvia, achando que provinha de uma bola velha era a sua voz interior. E era disso que ele precisava, era dessa voz que ele precisava ouvir para orientar-se. Essa voz que tantas vezes parece confundir-se com outras vozes que existem em nós e fora de nós, mas que não nos ajudam a sair de um problema, de um vício, de uma dependência, pelo contrário nos empurra ainda mais para elas, e o pior é que acabamos em nossa vida ouvindo mais essas outras vozes que não nos levam a real necessidade da nossa vida. Vozes que nos guiam para longe daquilo que na verdade somos.
                                                           

Meu Deus quantas vezes já me vi em situações em que quando “caí na real” descobri estar num lugar o qual não deveria está. Pessoas as quais nunca deveria ter tido como amigas ou até fazendo coisas que nunca me imaginei fazer. Isso se deu por me deixar seguir essas outras vozes que me levara para longe daquilo, do lugar, para o qual fui criado me descaracterizando e me tornando uma “outra” pessoa.
Quantos sonhos de infância não foram esquecidos? Quantos planos feitos foram deixados de lado? Porque será? Será que esquecemos porque eram sonhos apenas de criança ou porque nos deixamos guiar por essas outras vozes as quais nos levaram para longe e que nos fez esquecer o motivo para o qual fomos criados? Será que esses sonhos já não era uma pré-figuração de uma vida, de um sonho de Deus que já se manifestara na pureza de uma infância? Ou caímos mais uma vez no engano de achar que só o adulto, só quando adulto, é que saberemos e conheceremos o sentido da nossa vida?
                                                                                             
Jesus sempre teve predileção pelas crianças, pois elas têm o coração puro. Não seria então possível que Ele já não se revelasse a elas? Não seria então possível que esse sonho de infância fosse, na verdade, uma revelação de nossa própria identidade, ou seja, de nossa vocação? Ou preferimos achar que quando criança não sabemos o que fazemos? Quando criança é bobagem tudo o que pensamos?
Bobagem mais pensamos e fazemos agora enquanto “adultos” e “maduros”.
E é por essas bobagens que, como adultos cometemos, não podemos andar sozinhos. Precisamos dos amigos para nos ajudar a enxergar o que não conseguimos e que pode não está em conformidade em nós e nas nossas decisões.
É por isso que devemos escolher bem as nossas amizades, pois ao andar com elas, estará andando junto a nossa vida, a nossa história, o nosso futuro, pois como sabemos, o futuro é conseqüência das decisões que tomamos no nosso presente.
Por isso escolha bem suas amizades, pois elas tanto podem te levar para um céu como podem te levar para longe dele.
                                                                                 
Pensar um pouco sobre nossas amizades como eram e como tem sido hoje me parece ser um bom começo e uma boa prática. O que de bom este amigo, esta amiga, me faz perceber? Ela (ele) tem me feito descobrir essa voz em mim? Essa voz que muitas vezes sem conseguir nem ouvir direito, mas mesmo assim me trás uma paz? Ou ele (ela) tem me feito desencanar, esquecer me fazendo crer que são bobagens de infância ou bobagens de adulto e o que preciso mesmo é de diversão pra relaxar e “esquecer” o resto?

Pensar sobre isso pode ser cansativo e até chato. Pode parecer que não confiamos nos nossos amigos e que podemos está traindo a confiança deles. Será? Uma coisa é certa, pensar sobre isso, pode ser a salvação de uma vida que estava sendo guiada por caminhos que não são os teus.
Outra coisa é certa, pensar sobre isso, pode ser garantia de se descobrir um amigo de verdade que até está do nosso lado e nunca havíamos percebido e poder assim valorizá-lo mais.
                                                        

Se de fato forem amigos eles ficarão se não ficarem, alegre-se e rejubile, pois se livrastes de estorvos e abutres que sugavam sua vida.
Como se pode ver há mais ganhos do que “perdas”.
Que Deus nos dê a graça e o dom de termos verdadeiros amigos.



                                                              (texto escrito por Itamar Antônio)